sexta-feira, 27 de julho de 2012

Rayuela (um pouco modificado)


Acordei e vi a luz do amanhecer pelas frestas. Saía tão de dentro da noite que tive como um vômito vindo de mim, o espanto de entrar num novo dia com sua mesma apresentação, com sua indiferença mecânica de sempre: consciência, sensação de luz, abrir os olhos, persiana, a madrugada.

Nesse segundo, com a onisciência do semi-sonho, medi o horror daquilo que tanto maravilha e encanta as religiões: a perfeição eterna do cosmos, a rotação incessante do globo sobre o seu eixo. Náusea, sensação insuportável de coação. Sou obrigada a tolerar que o sol saia todos os dias. É monstruoso. Não é humano.

Antes de voltar a dormir, imaginei (vi) um universo plástico, mutante, cheio de maravilhosos acasos, um céu elástico, um sol que inesperadamente falta, ou fica imóvel, ou muda de forma.

Ansiei pela dispersão das duras e inflexíveis constelações, essa suja propaganda luminosa do destino.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

PAGE, Martin.

“Eu não quero ter força para ser eu, nem coragem nem cobiça de ter algo parecido com uma personalidade. Uma personalidade é um luxo que me custa muito caro. Quero ser um espectro banal. Estou sufocado pela minha liberdade de pensamento, por todos os meus conhecimentos, pela minha abominável consciência!” (pp. 25-26)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ninguém quer se apaixonar.


Ninguém quer se apaixonar. A paixão é um eufemismo pro sofrimento, de fato.
Mas sofrimento bonito e dramático.

“Chico
Bosco detalha como o desejo insano proporcionado pela paixão é o mesmo que investir todo o dinheiro da sua vida em uma única ação. Logicamente, quando toda a nossa vida depende de uma única pessoa e sua opinião, iremos acatar como nunca julgamos possível. Queremos agradar ao ser amado. Mais que isso: precisamos agradar ao nosso objeto de amor, dependemos de seu desejo. Claro que não é uma equação direta, há todo um Almodóvar para nos explicar.”

Até que...

“Quando amamos, ao mesmo tempo, gostaríamos de deixar de amar. Afinal, é a fonte central de sofrimento e dependência. Queremos destruir a paixão. Por isso ela é tão violenta. Isso passa muitas vezes ao largo do que pressupomos. Preferimos acreditar que somos corajosos e entregues ao amor verdadeiro. Mentira. Procuramos quem nos confirma a identidade. Desdenhamos quem nos descobre a identidade. Identidade é apenas uma idealização.”

“Escorrega, no entanto, no epílogo, afinal, não é santo: chama o acaso de imperfeição do real. Ora, o acaso justamente sequer é acessível ao homem. Só a natureza tem acesso à perfeição. Só a natureza é capaz de gerar o acaso. Nós mal conseguimos sortear a loteria e, ainda assim, porque inventamos uma indulgenciazinha. O acaso é tudo. Sorte grande a de quem abre os braços e se enlaça com o imprevisto. Pobre de quem não entendeu que desejamos, sim, controlar. Apenas não conseguimos.”

quinta-feira, 12 de julho de 2012

lavando as mãos


E sinceridade é sinal de inteligência extrema.

As pessoas mais incrivelmente inteligentes possuem uma coisa em comum, além do pessimismo:  a franqueza ácida.

Sartre, Einstein, Lispector, Woody Allen, Gertrude Stein, Julio Cortázar, Niemeyer, Scott Fitzgerald, Freud, Pamuk, Mark Twain, Lebowitz, Aristóteles, Hemingway e tantos outros, o discurso sempre trazia uma dose cavalar de honestidade.

"Se o desonesto soubesse a vantagem de ser honesto, ele seria honesto ao menos por desonestidade."
Sócrates

A certeza da honestidade trás despercebida uma confiança muito grande no que se fala, e que se fodam as conseqüências, lave-se as mãos.

E falo aqui da honestidade dos nossos princípios, além das do cotidiano. Mentir algumas ações ou outras, tudo bem, somos humanos. Mas com aquilo que acreditamos.. dificílimo!
Afinal a vida é um um minuto, todo o tempo gasto pra enfeitar ou disfarçar a verdade ou os fatos é inútil. Os fatos sobressaem aos efeitos da enganação, e mais dia ou menos dia a máscara cai.

Enganar as próprias vontades, ir pelos caminhos mais curtos, se perder na imensidão da vaidade. O caminho da franqueza é sempre o mais seguro, porque é a essência, é mais simples só ser e ser de uma maneira breve e bruta.

As pessoas mais incríveis só fazem existir brutalmente, lascivamente entregam sua essência, doa o que doer.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

noção da realidade.


‘Talvez haja um lugar no homem onde se possa apreender toda a realidade. Esta hipótese parece delirante. Auguste Comte declarava que jamais se conheceria a composição química de uma estrela. No ano seguinte, Bunsen inventa os espectroscópio.’

segunda-feira, 2 de julho de 2012

desde pequena sempre achei o charme da cidade grande olhar as luzes dos vários prédios madrugada dentro pela janela, sempre gostei de admirar a vida pulsante dos 'apagares' e 'ascenderes' de luzes dos apartamentos, olhar sozinha pelo vidro os barulhos da vida noturna pacata do dia de semana.

baforar no vidro e vê-lo embaçado no frio, depois fazer espirais e coraçãozinho.

há algum sentimento muito confortante em saber que enquanto todo mundo segue a redoma e dorme, eu de propósito quebro a rotina e observo.

percebi então que quebrar a rotina é o grande triunfo da vida urbana.

se permitir não pegar o metrô naquele momento preciso ou desobedecer o despertador é um prazer inimaginável pra quem vive nessa metrópole. sentar na grama do ibirapuera num fim de tarde atribulado, tomar banho às 3 horas da manhã, acordar às 14, almoçar no sujinho às 19, não jantar.

desde pequena eu (também) sempre achei um charme andar apressada pela paulista no horário de pico, não olhar na cara de quem passa do seu lado de cabelo verde, do hare krishna que te para na outra esquina ou do repórter que te para em frente a escada da Gazeta.

sempre achei charme subir as escadas rolantes do lado direito dando passagem à esquerda, esperar o sinal verde, não pegar o papel que distribuem na rua, não olhar pra pessoa que dorme embaixo do viaduto, fumar depois da faixa amarela em pé e blasé.

seguir e desobedecer a cidade, qualquer que seja o fim (o lado que se escolhe) é tudo muito melodramático. a vida aqui, de qualquer um, é sempre uma grande novela. um movimento em falso, uma pequena atitude e caem todas as peças do dominó, em sequência.

seguir ou desobedecer, esse é o charme da metrópole.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

cores

5 minutos e 34 segundos exatos, com o papel e a caneta na mão.
5 minutos e 34 segundos exatos, encarando um copo de suco de alguma fruta não lá muito apetitosa.
5 minutos e 34 segundos pra tirar (sofridamente) da poeira dos tempos as primeiras letras aqui escritas: 5 minutos e 34 segundos, exatos.

Daqui a diante não é inspiração, não é nem nunca foi.
Inspiração!
E alguém me explica?
Foram exatamente os minutos que me permitiram sair da folha em branco.
Branco cor de cor nenhuma.
A explicação é o puro espelho do que eu era antes de tal intervalo de tempo, antes de ousar a escrever, branca cor de cor nenhuma. Eu fui cor nenhuma e o esforço é para não sê-lo e espirrar as primeiras letras como a fuga pra fugir da coisa nenhuma.
E eu sou lá menina-mulher de ser coisa nenhuma?
Sacrifício maior então foi ter percebido esse imenso branco que eu tinha à minha frente, o branco da vida... e eu achando que tudo era mais vermelho!
Só não sabia que pra descobrir a vermelhidão antes tem que ser branco cor de nada, antes tem que ser pó branco e depois cor de fogo e fênix, no velho clichê da ressurreição.

Obrigada quem-for-que-seja pelos 5 minutos e 34 segundos!!

terça-feira, 13 de julho de 2010

Baixo a cabeça para ouvir o silêncio (que é tocado numa nota só. aguda)
Como não transparecer?
Vivi de fato mais anos do que tenho. Cronologicamente definidos.
Consegui driblar o tempo,
um façanha de transformar segundos em eternidade,
onde o vice-versa também vale.
E todos aqueles papéis e cigarros mal fumados?
Agora pó e cinzas.
Triste fim para os tempos 'simbolistas'.
Eu realmente costumava ser mais sarcástica.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

do Cortázar.



Na realidade somos como as cómédias quando se chega ao teatro no segundo ato. É tudo muito bonito, mas não compreendemos nada. Aliás, isto já foi dito por Shakespeare; e, se não disse, tinha obrigação de dizer.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

São sempre eles,
esses mesmos sentimentos.
Algo como um karma, nature/nurture.
Desde os princípios dos séculos, desde o átomo primordial eles estavam ali.
Sempre existiram essas máximas de amor cósmico.
Desde a primeira vez que eu te vi essas máximas já existiam.
Elas passaram pelas gerações, passaram pela eternidade dos momentos de paixão, pelos beijos, pelas chamas, pelos olhos famintos de outras pessoas até chegar em nós.
Os grandes filósofos, os grandes pensadores já falavam dele, o amor.
Da primeira vez que eu te vi, meus sentimentos então ultrapassaram a realidade, porque na verdade, eu sempre senti isso por ti.
Os sentimentos vieram antes de você, vieram antes de mim, já estavam ali.
Eu só fiz sentí-los.
Eu só fiz enxergar.
Depois de anos, eles ainda existem.
Intactos.
Vem!
Vem ter comigo de novo, os ecos do mais primitivo sentimento passional, a resposta astronômica da compaixão divina. O amor vai além desse período insignificante de infinitude, a vida, mais que um trago, mais que um 'post'.
A tão importante resposta do clássico 'E agora, engole ou cospe?', tão bonito em significados e tão difícil na prática, 'Abrir ou não abrir?'.
Ah, o amor!!

domingo, 18 de abril de 2010

Amavisse; Hilst.

Como se te perdesse, assim te quero.
Como se não te visse (favas douradas
Sob um amarelo) assim te apreendo brusco
Inamovível, e te respiro inteiro

Um arco-íris de ar em águas profundas.

Como se tudo o mais me permitisses,
A mim me fotografo nuns portões de ferro
Ocres, altos, e eu mesma diluída e mínima
No dissoluto de toda despedida.

Como se te perdesse nos trens, nas estações
Ou contornando um círculo de águas
Removente ave, assim te somo a mim:
De redes e de anseios inundada.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Th Oldies.



"Aqui há aroma de coisa antiga, voz de Billie Holiday.

Algo entre um brando niilismo e uma sorridente melancolia, para as almas que se alojam na poesia, que afagam a literatura com os dedos, que se alimentam de um quê de existência que é meigo, rico, volátil, extracorpóreo.

À todas as pessoas cujas reflexões, fantasias e metas baseiam-se naquilo que o mundo teima em negligenciar: o AMOR, em todas suas instâncias, a afabilidade, os poemas, alguns acordes, a sensibilidade e a necessidade de deteriorar tudo que for ordinário, vil e cotidiano.

Me, myself & I é um estado de espírito. Um ode aos amores que são abrigos, amigos, sentidos.

Que gostam de ler Clarice ou Nietzsche juntos, que sabem que sexo é as vezes sexo sem ser foda, como apregoam, ocorrendo frequentemente num auge de olhares, conversas e cartas.

Um ode a quem já é apaixonado mesmo estando só e que por enquanto habita num purgatório."

Gosto muito dessa descrição...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Do you wantá cáp of teaá?

Depois desse mormaço o que eu quero é vento! é água!
Vento corre longe infinito, água corre invisível nos canos de baixos do meus saltos e sapatinhos.
Gosto de saber que existem mundos, pessoas-mundo que não conheço, quem serão?
Ninguém sabe meus mistérios, debaixo dessa tinta existem fios loiros.
Do you wánt sáme teaá?
Os uivos dos ventos pra mim são sempre prenúncios.
Fique longe de mim, não alimente meus impulsos!
Do you wánt sáme sugár?

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Pode ser?.

Acabei de ler minhas confissões desse blog inteiro. A vida é cíclica, um vai e vem interminável. Uma sensação gostosa de coisas novas, problemas, pessoas, pessoas.. aaah meu Deus como é possível tanta explosão de vidas numa só passagem intrínseca pelos rastros do tempo?! Viver dá calos, calafrios, ruguinhas, ponta pés, giros, cicatrizes.

Ui ui ui.

Eu vivo tanto. Vivo meia-boca, vermelha, às vezes bege, nunca verde, nunca morna. Quando dou por mim sou mais aquilo que achei que fosse!

domingo, 23 de agosto de 2009

é fato

todo pensante assumido, peca pelo excesso.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Im ready for my close up.

Gosto dos livros mofados, com manchas de café e uma folha seca que marca uma página pela metade.
Gosto de sentir todas as experiências que me permitem sentir.
De mergulhar em mantras e repetir palavras que não entendo, mas que me fazem bem, e repetir, repetir, repetir, repetir...
Queria escrever coisas mais universais, mas só saem coisas de mim. Isso é um sinal de egoísmo doentio.
Sinto muito por tudo e por todos, sinto demais.. queria sentir menos.
Não gosto e tenho enjoo desses relacionamento mornos.
Me sinto enjoada.
Gosto dessas gotas de chuva que caem macias no vidro da janela, que me convidam a preguiçar e esquecer tudo lá fora.
Gosto do cheiro que me trazem as lembranças, e das lembranças que me trazem os cheiros.
Gosto de tudo que passei, porque me faz querer mais...
Gosto do que conheci, do que vi, de quem eu tive, de quem eu tenho, porque me fez assim.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Sete Chaves


Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha
grande história passional, que guardei a sete chaves,
e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.
Conta mais essa história, me aconselhas como um
marechal do ar fazendo alegoria. Estou tocada pelo
fogo. Mais um roman à clé?
Eu nem respondo. Não sou dama nem mulher
moderna.
Nem te conheço.
Então:
É daqui que eu tiro versos, desta festa – com
arbítrio silencioso e origem que não confesso –
como quem apaga seus pecados de seda, seus três
monumentos pátrios, e passa o ponto e as luvas.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Machadiana

A manhã era linda.
Veio ali por fora (pela fresta), modesta e fresca.
Espairecendo minhas borboletices sob a vasta cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as asas.
Passa pela minha janela, entra e dá comigo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Assim, pela metade...

Às vezes não vale a pena mergulhar em tanta certeza.
É mais fácil fingir que foi um subplano do destino pra mostrar coisa alguma.
Quero fugir de qualquer vulnerabilidade de sentimento mesquinho.e atiçar a bondade dos acasos.

É cedo demais pra descobrir certas coisas, e muito tarde pra perceber outras.

Deuss, queria um pouco de normalidade, será que é possível?
E ah, umas rosquinhas também, enquanto espero.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Distraction is an obstruction for the construction.

Quando a vida transborda as palavras cessam...

e a inspiração escapa.

domingo, 29 de março de 2009

Ao dormir sonho colorido. E de quantas cores seus sonhos são feitos? De todas e além, algumas se misturam e se confundem, outras de tão belas deixam de ter nome.
Deixa de besteira!
E quando acordo sonho de olhos abertos.
Até parece que você quer dormir do avesso.
E como é? é preciso ter coragem, afinal, sonhar no mundo das engrenagens é inevitavelmente parte de nossas sandices cotidianas. E qual a diferença de sonhar acordado ou de olhos abertos para o lado de dentro? A grandeza do sentimento.

Abstrações.



you know... we want our film to be beautiful, not realistic.

pshi.
I'm so touched by your goodness
you make me feel so criminal.
I've explored you with the detachment of an analyst
and none of our secrets are physical.
it's like we weren't made for this world
no, I wouldn't really want to meet someone who was.
I'm just not available
things could be different
but they're not

quarta-feira, 11 de março de 2009

Petits Sons Appétissants

Na playlist muito thee, muito barulho, muito descompasso pra acalmar o coração.
O desespero sonoro trás força, tudo muito waaaiow, quacks, guturalmente falando.
Hoje aprendi a tomar chá de alfazema sem açúcar.
Aprendi a fazer a unha.
Baloons, baby, probably, bubbles, e balabras terabeuticas.
A lua faz tudo ser imenso em mim.
As pessoas chegam, chegam... querendo o quê necessariamente?
Depois elas voltam de onde vieram com o rabo entre as pernas, ilusões demais, vida de menos.
Todos os clichês no final viram tão verdadeiros.
Todos os clichês que eu necessito e preciso dizer que são só ‘clichês’ vêm à tona, pois tudo na verdade é tão clichê.
É uma regra: acredite nos clichês.
As velhas histórias se repetem, e não tem como fugir disso.
Aaaaai como a vida é óbvia!!!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Aqui nesse quarto fito curiosamente, no apertar de olhos, as margens da minha sombra borradas de vodka... me sinto elegante e febril como uma serpente pronta para dar o bote.
Observo meu reflexo roxo e apagado tropeçar em uma parede e mudar de tom. Azul, rosa, roxo de novo.
E existo mais em dias rasos assim, na minha imensa fragilidade, no atrito de cinco mil sentidos... Ninguém me rouba a solidão.
Ouço uma música baixinha, um barulhinho bom.
Passo delicadamente minha mão por essas teclas e não abuso.
Não assumo mais do que meus dedos podem sustentar.
Ando na ponta dos pés, grafo com a ponta das unhas e aponto meus dedos direcionando silêncios, não quero assustar os termos.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Silence

"Esteja alerta para a regra dos 3

O que você dá, retornará para você

Essa lição você tem que aprender

Você só ganha o que você merece"

São nos momentos de fragilidade que você descobre seus anjos sem asas, são nesses momentos que você descobre quem vai com você até o final (do tormento), que você descobre o porquê de um dia depois do outro, e lembra do orgulho que você esqueceu, do que deixou de proporcionar às pessoas porque estava tão vulnerável.

Uma vontade de se trancar em um quarto e deixar que ninguém se contagie com suas últimas experiências fracassadas, com a esperança jogada ao poço; Ninguém é dono dos meus problemas, nem eles são donos de mim.

Então por teimosia meus anjos se deixam contagiar pelos problemas, pra compartilhar tudo comigo, num ato quase santo.
São meus anjos sem asas.

Sabem que eu não posso dar nada em troca, porque há uns meses eu estou vazia e à flor da pele, não sou a de antes. Machucada na alma.

É aí que elas sugam tudo que me aflige, e depois me preenchem de mim mesma, me tiram as vendas dos olhos, me devolvem à mim mesma. Me fazem sentir o gosto de uma boa cerveja, o som de uma boa música, me fazem rir como nunca, até a barriga doer e os olhos chorarem (de coisas boas).

São meus anjos sem asas.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


É coisa de mulher...

Ter algum prendedor de cabelo que dure mais de 3 meses sem sumir misteriosamente, conseguir andar de salto alto, saber dos seus ângulos mais atraentes e fingir que não sabe o que tem de mais bonito no corpo, sentir ciúmes e fingir não ter, sentir ciúmes e brigar por ter, escrever textos dramáticos ‘Ó destino cruel! Por que eu sinto tanto?’.

É ter desejos incontroláveis por comidas extremamente estranhas, ter vícios periódicos por coisas não-notáveis, esquecer o guarda chuva em todo lugar que vai, é todo santo dia estar num Bad Hair Day, é chorar por alguém e dizer pra Deus e o mundo que você nunca seria boba de chorar por ninguém, ter raiva de dizerem que é sexo frágil mas bem no fundo admitir que isso é verdade. Ter tpm (uma desculpa pra extravasar) e chorar horas a fio sem saber porquê e por quem, dizer muito e não falar nada, falar pouco e dizer muito.

Se sentir igual ao resto do mundo, é surpreender, ser sensitiva e saber que isso é um dom forte, ser menina pra sempre, ter nostalgias, pipoca, filmes e amigas, ter baixa imunidade, ouvir músicas que arrepiam, sentimentos que dão dor na barriga, saber que se tem o poder, saber que se tem, que se pode ou não dar, que se gera um ser humano e ter a decisão de querer ou não ter, brincar com o sentimento de poder só pra ser mulher. Ser mulher enfim, é uma vida lindamente condenável, uma vida de rosas e espinhos, é uma vida de mulher e é só uma, é só essa aqui.


Texto escrito com os conselhos da Débora, minha amora e amiga sempre.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

‘O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma pessoa quando há dez mil outras no mundo que você amaria mais se conhecesse? Mas a gente nunca conhece.’

Velho Buk.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

pensamento.

O pensamento cognitivo? É mais um rito de passagem.
Neblina mental.
Sexo mental.
O beijo e a anestesia.
Manchas na epiderme.
Olhos como pétalas de papoula.
Luvas de cetim amarelado destoando a imagem escurecida do quarto de poeira e talco.
Tudo o que é vivo, que precisa de mais que um sorriso para estar vivo, movimento semi-preditado, será que vale?
Viver é instinto, uns me dizem.
Um ser onipotente, onipresente, que nunca vimos, criador do "nada é nada e cala a boca", Deus.
Toque macio.
Toda a noite a mesma sombra.
Saudade?
Muita.
Longe disso, longe de tudo.

domingo, 26 de outubro de 2008

boom.

O céu cobre o mundo e não protege ninguém.
Os dias comen uns aos outros. São engolidos rápido demais para minha memória captar.
Debaixo dessa cama de ossos eu sinto as palavras pulsando e se debatendo para sair. Estão cansadas de tanta colisão, cansadas de serem escravas de meus comentários vagos e cansadas de existirem em um ritmo frenético apenas para serem sedadas, carimbadas e engavetadas mesmo antes de brotarem na língua, antes do fim.

Não tenho medo do fim, esse treco-inonimável-que-me-leva-para-o-outro-lado.

A morte não vem ao caso, ela nunca é o caso. Seria um desfecho simplório para uma história tão intensa. A morte não machuca o suficiente, dura um segundo. É o que nao posso falar, não há nada a ser dito. Morrer... é engasgar?


’Oh não! E todo esse tempo eu pensava...’
Esse é o problema, você pensa. Deixa comigo, deixa eu ser sua vida inteira, sua cicatriz, deixa eu ser seus buracos. Posso te suspender no ar, abrir as cortinas, colorir a paisagem da sua janela, posso até serrilhar suas amarras. Vem, segura na minha mão!
It`s show time...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

alfazema.

Já entrei contigo em comunicação tão forte
que deixei de existir sendo.
Tu tornas-te um eu.
É tão dificil falar e dizer coisas que nunca podem
ser ditas.É tão silencioso.
Como traduzir o silêncio do encontro real,
entre nós dois.
Dificílimo contar:
Olhei para você fixamente por uns instantes.
Tais momentos são o meu segredo.
Houve o que se chama de comunhão perfeita.
Eu chamo isso de estado agudo de felicidade.

sábado, 16 de agosto de 2008

Hilst hilst.

"Agora que estou sem Deus posso me coçar com mais tranquilidade."

"Iniciei mil vezes o diálogo. Não há jeito./ Tenho me fatigado tanto todos os dias/Vestindo, despindo e arrastando amor/ infância/sóis e sombras./ Vou dizer coisas terríveis à gente que passa./ Dizer que não é mais possível comunicar-me./ [Em todos os lugares o mundo se comprime.]/ Não há espaço para sorrir ou bocejar de tédio./ As casas estão cheias. As mulheres parindo sem cessar,/Os homens amando sem amar, ah, triste amor desperdiçado/ Desesperançado amor... Serei eu só/A revelar o escuro das janelas, eu só/ Adivinhando a lágrima em pupilas azuis/Morrendo a cada instante, me perdendo?/ Iniciei mil vezes o diálogo.Não há jeito./Preparo-me e aceito-me/ Carne e pensamento desfeitos. Intentemos,/ Meu pai, o poema desigual e torturado./ E abracemo-nos depois em silêncio.Em segredo./"

" Te amo, vida, líquida esteira onde me deito."

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Aaaah!

Estou cheia de vida. Se vivo muito ou pouco, não me importa. Eu vivo intensamente. Gosto de pessoas cheias de paixão, que sentem tudo de um modo quase exagerado, que amam e odeiam com todas as forças. Eu sou assim. E gosto também de ser assim.
Gosto porque às vezes me liberto de tudo o que é preto e sou vermelho vivo. Nestes dias gosto do meu sorriso. Sinto-me invadida por uma força infantil e uma vontadade de rir, porque simplesmente me sinto livre. Sei que posso fazer o que eu quiser. As minhas asas estão mais abertas e coloridas que nunca. Atravesso a ponte com um sorriso interior, porque olho os carros passar, sei que posso me atirar e simplesmente não quero. Tenho o destino em minhas mãos e opto por viver. Eu quero viver.
Entro em casa e tomo um banho gelado... sinto-me extramamente viva. Vôo em circulos dentro do meu quarto, ao som de uma música que me dá vontade de cada vez girar mais rápido, de gritar e depois cair encima da cama, e ficar balançando as pernas no ar.

Nada do que faço tem sentido e isso é tão bom; Não me preocupo com a lógica das coisas, as mais interessantes nunca têm lógica.

Flex

Palavras preferida? "Flexibilidade". Adoro: fle-xi-bi-li-da-de. Só de falar, já é flexível. Fle-xi-bi-li-da-de. Devia ser uma regra aqui em baixo: ser flexível com as pessoas, com os amigos e a família, com as opinões alheias e próprias, ser flexível com os planos. Ter o corpo flexível. Por que às vezes é tão difícil? Por que essa rigidez toda? Por que flexibilidade é sinônimo de fragilidade em certas horas? Quando foi a ultima vez que convidou tua alma para uma yoga?

Brrrr.

Adoro inverno, mas tem coisas que acabam tornando essa simpatia um porre! Como sentar na privada para fazer xixi de manhã cedo. O homem é capaz de clonar ovelhas e não inventa uma privada com aquecedor. E deitar na cama? Camas deveriam possuir um colchão quentinho. Odeio aqueles minutos intermináveis entre o frio e o quente, ficar com os pés apertadinhos e não poder desdobrar as pernas. Descobri que sempre desejo o quente. Odeio cama morna. Rejeito relacionamentos mornos. E eu sabe... ainda espero a invenção do colchão aquecido.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

she`s intoxicated by herself.

Como se faz quando a pessoa que mais te faz mal é a mesma que te reflete no espelho?







Little boy, stop knocking on my door... I`m too dangerous to be loved.

terça-feira, 27 de maio de 2008

12 meses.

Me pego desejando coisas proibidas nos sonhos,
saboreando chantilly com açaí,
me abraçando com você num aconchegante pôr de sol,
doces misturas aparentemente imiscíveis
mas que de alguma maneira se completam
em sabores, formas e sensações
alguma coisa premeditada,
a vida se movia
e só a gente não acreditava

agora as palavras escorrem de mim,
alguma coisa a ver com as misturas de cores
da pintura de fim de tarde no céu,
alguma coisa a ver com o abismo azul do seus olhos,
alguma coisa a ver com sentimentos exagerados e atitudes quase inexistentes.
Jorram de mim esses vícios,
esses de que tão necessários, se tornam vitais.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Devaneios de uma rapariga

Observo imune à cada palavra que surge em minha cabeça, todas elas são voláteis e extra-abstratas. Coloco aqui as que ficam.
Lá fora outono, aqui dentro inverno.
Lá fora amores, aqui dentro indiferença.
Meço as feridas quase cicatrizadas, mas que ainda doem.
Lá fora música, aqui dentro ecos.
Lá fora vida, aqui dentro sonhos.
Quebro um salto alto, alargo um decote, misturo perfumes, rasgo cartas, dobro as peças de roupa, desafino o violão, leio dicionários, jogo fora os papéis da gaveta, rego flores com gasolina, conto mentiras ao espelho, vejo filmes repetidos, mesma música, mesmos acordes, um pouco mais de Hershey`s, pouco menos de vodka, Pringles sempre, gelos de côco com whiskey, cigarros mal fumados, balas de hortelã, peças comestíveis, um babydoll de algodão, livros mofados, muitos deles, o telefone toca, não atendo, não arrisco, escrevo, escrevo e escrevo.
Pronto, fuga bem sucedida.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Do [meu] desejo.

Eles me dizem tudo o que eu quero escutar. Eles me procuram e esperam de mim aquilo que eu não posso dar, ou subconscientemente, não quero mesmo dar, o que de fato torna tudo amargamente intrigante. A sofridão da oferta/procura de sentimentos é uma política de mercado muito injusta, a procura é incessante e quanto a oferta diminui cada vez mais, à medida que o tempo e a necessidade do individualismo cresce. A oferta é o cúmulo do abstrato. Ela muda constamente. A oferta é o sonho inatingível dos sozinhos de alma. Mas pensando bem pouco me importa a política em suas várias formas, quanto mais a de mercado.
O jogo do amor, é um jogo incansável. É um jogo que move grandes máquinas, vidas, dinheiro, poder. Quem sabe jogar, definitivamente tem o poder. E esse é o porquê de tudo isso, de uma forma bem particular. O poder torna-se divertido de começo e quando se tem muito dele, ele entorna sua crueldade muito tentadora, e acaba aflingindo a quem a possui, e no final esse mesmo poder acaba por transformar-se em um grande e vazio poço de nada. Um grande poço de nada. Entao, de que adianta tanto poder sobre as outras almas para tornar-se, num desgastoso final, num poço de nada?
Eles me dizem tudo o que eu quero escutar. Eles querem acima de tudo, todo o poder sobre mim, mas eles que tenham, não me importa, no desgastoso final eles não terão nada mesmo.
Existe na vida, esse grande abismo desorganizado, uma sabedoria embutida em todas as pequenas coisas que nos inspiram. A que me mais me inspira nesse momento talvez seja eu mesma, o meu labirinto de idéias, meu instinto avassalador por ser eu mesma, meus desejos mais soturnos envolvidos por uma delicadeza que eu não sei se quer explicar, dentro de mim habita um mundo desconhecido, um minuto em minha pele são velhos séculos de escuríssima doçura.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Prelúdios - intensos para os desmemoriados do amor.

I

"Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II

Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)
(HILDA HILST)